16 de junho de 2019

Palavras e expressões que me irritam



Há palavras que me irritam. Não é pelo significado, porque algumas até são bem positivas. Mas irritam-me. Não sei se será da "sonoridade" da palavra ou o facto de alguém a dizer.
É o caso das palavras: Contraproducente, Auto-suficiente, Saudosista e Assertivo. Não sei porquê, mas irritam-me.

Uma palavra que ouvi há pouco tempo e que até acho graça é: Transfega. Ou será Trasfega? É que na televisão muitos dizem Transfega, mas na internet e nos dicionários diz Trasfega. E a palavra significa: transferir de um recipiente para outro. Ou seja, é "transferir" e não "trasferir". Por isso, não percebo porque é que não é Transfega, mas sim Trasfega. Pronto, já me irritei com essa palavra também.

Algumas expressões ou ditados também me irritam. Não só pela sonoridade (estou a ver que me irrito com pouco), mas também pelo significado, até porque para mim não fazem sentido.
Por exemplo:
"É ouro sobre azul" - isto até deve ter alguma história por detrás deste ditado, mas acho parvo. Costumam dizer isso quando é alguma coisa boa, uma situação perfeita, sei lá. Para mim, perfeito não é "ouro sobre azul", mas sim "ouro dentro do meu bolso". Isso sim. Quero lá saber do azul para alguma coisa.

É como a expressão "É a cereja no topo bolo" - Para mim, isso é mau. Eu gosto de cereja, mas comer isoladamente. Não gosto de alterações e misturas. Eu gosto muito daquele bolo chamado Pirâmide. É aquele bolo de chocolate, com chantilly e cereja no topo. Pois, eu como o bolo todo e deito fora só a cereja. É a parte que menos gosto. Por isso, uma coisa perfeita para mim não é "a cereja no topo do bolo", mas sim, "o whisky no bolo inteiro".

Outra expressão. "Não ganhou para o susto." - Bastava dizer: "Assustou-se", Agora, não ganhou o quê? E se ganhasse para o susto, ganhava o quê? Assustou-se ou não se assustou!

"Chegou a vias de facto." - Esta expressão parece incompleta. A vias de facto... qual facto? E se alterasse a ordem das palavras e ficasse "Chegou, de facto, a vias". Faria algum sentido, mas ficaria incompleto. "Chegou a vias de facto." Qual quê? Bastava dizer: "Fez porcaria".

Outras expressões que, para mim, não fazem sentido nenhum:
"Não há duas sem três" - Está mal. Devia ser "Não há três sem duas". Se tu tiveres duas, podes não ter três, porque tinhas de ter mais uma, que não tens. Agora se tens três, obrigatoriamente tens duas. E uma. Estás a perceber? Não? Pois eu também não.
Outra: "Não há bela sem senão" - mas o que é isto? "Não há bela sem senão"? Não faz sentido nenhum. Já agora, porque não as expressões: "Existe frio sem talvez" ou então "Não se tem quadrado apesar de qualquer". Gostam?

E a expressão: "De armas e bagagens" - Mas alguém anda com armas? Experimenta passar no aeroporto com armas e bagagens. Só se fores um americano branco do sul dos Estados Unidos. Aí talvez passes.

Uma expressão que se percebe o significado mas irrita-me quando dizem isso porque parece que querem ser engraçados. "Foi uma prenda de Natal antecipada". E cada vez dizem isso mais longe do Natal. Para quê? É para arranjarem uma desculpa para não darem presentes no Natal? E dizem isso nas mais variadas situações. Oiço muito nos telejornais:
"Flávio Cebolo cortou a meta em 1º lugar na Maratona de 15 de Maio na Charneca do Lumiar. Foi, de facto, uma prenda de Natal antecipada."
Epá, foi em Maio!!! Natal? É já para ele não receber nada?
-"Então, Flávio? O que recebeste neste Natal?"
-"Nada. Zero. Ninguém me deu nada."
-"Nada, não é bem assim. Sei que recebeste pelo menos uma taça na Maratona de 15 de Maio na Charneca do Lumiar. Já é bem bom."

As próximas expressões oiço-as muitas vezes ditas por políticos para dizer que algo está a ser feito mas na verdade não está nada. Só que, para sossegar o jornalista e o povo, dizem coisas como:
"Estão accionados todos os mecanismos." ou então "Estão reunidos todos os ingredientes necessários."
Quais mecanismos? Quais ingredientes? Estás a trabalhar em mecânica? Em culinária? Nem sabes do que é que estás a falar. Diz antes "Olha, não sei o que vai ser feito". Pronto. Diz logo a verdade.

Há também expressões que exageram a situação. Uma, eu oiço muito quando fazem reclamações que é:
"E qual não é o meu espanto." - Diziam isso muitas vezes quando eu trabalhava num jornal de anúncios a reclamar.
-"Telefonei para colocar um anúncio. Comprei o jornal... e qual não é o meu espanto, quando não o vi o anúncio publicado."
A sério que te espantaste? Abriste o jornal e fizeste "aaaaAAAAHHHH".
E depois dizem isso em situação básicas.
-"Disseram na televisão que ia estar céu limpo. Saio eu à rua, olho para cima... e qual não é o meu espanto, quando vejo uma nuvem. Assim não pode ser."

E estas que são muito ditas pela comunicação social sobre algo que de repente circula muito na internet. Expressões como: "Fez furor na internet", "Incendiou as redes sociais".
Ui... Desastre, catástrofe, computadores a voar, a explodir. É o fim do mundo.

Bom, já chega de irritações. Se continuo a falar sobre isto, ainda chego a vias de facto. É que com estas expressões, ficam reunidos todos os ingredientes necessários para accionar todos os mecanismos para haver desastre e assim incendiar as redes sociais e fazer furor na internet. Se bem que, com isto, poderei ganhar milhões de audições no podcast, o que seria ouro sobre azul ou, nesta altura do ano, uma prenda de Natal antecipada. Mas depois ainda acordo de manhã e, qual não será o meu espanto, quando aparecerá milhões de comentários ofensivos. E depois não ganho para o susto. Por isso, olha, não há bela sem senão e vou conter-me desta vez, porque não há duas sem três e também porque não se tem quadrado apesar de qualquer.


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