14 de janeiro de 2018

O dia em que mais comi num restaurante

Há uns anos atrás, no dia de aniversário da minha avó materna, decidimos ir todos almoçar fora, tal como fazemos sempre que alguém faz anos. Fui eu, os meus pais, os meus irmãos e a aniversariante. Ao todo, 6 pessoas apertadas dentro de um Renault Clio de 5 lugares. Para quem está habituado a andar de transportes públicos, a viagem até foi muito confortável.
Fomos a um restaurante brasileiro na Costa da Caparica, daqueles que têm buffet, pratos de picanha e rodízio. Desses restaurantes, penso que só existem em Portugal uns 32.637. Cerca de 31.000 estão na Costa da Caparica. Agora devem ser menos por causa do avanço da água do mar. Se bem que alguns aproveitaram esse facto e fizeram rodízio de peixe. Porque era mais fácil apanhar o peixe que vinha do mar, porque aparecia à porta do restaurante. Enfim, já estou a divagar. Continuando.
Quando chegámos à porta do restaurante, a empregada perguntou:
-"É mesa para quantos?"
E eu respondi:
-"Meia!"
Sim, porque, quando estou no território deles, tento falar "brasileiro". Porque "seis" é "meia".
Eu já ia com a ideia de comer picanha. Acho que toda a gente vai sempre com essa ideia. Aliás, nunca vi ninguém entrar num restaurante brasileiro e pedir sardinhas, bitoque ou cozido à portuguesa. Para beber, pediu-se vinho tinto da casa. E veio um vinho português. Eu pensei que, estando num restaurante brasileiro, eles nos presenteassem aí com um Terras de Paraguaçú ou um Vinha de Pantanal ou até um Adega Dilma Roussef, mas tudo bem. Isso sim, seria da casa.
Quanto aos pratos, 3 de nós pediram buffet e os restantes pediram picanha com direito a buffet. Perguntámos quando é que o prato estaria pronto. E disseram:
-"Meia hora."
Fiquei na dúvida se meia hora queria dizer 30 minutos ou 6 horas. Porque "seis" é "meia". Mas era 30 minutos.
1 hora depois do nosso pedido... a picanha ainda não tinha chegado. Vários empregados vieram à mesa pedir desculpas e asseguraram-nos que a carne estava quase a sair, que faltavam 2 minutos. Acho que nem sabiam o que tínhamos pedido. Poderíamos inventar qualquer coisa, como por exemplo:
-"E então? Estamos à espera do peixe-verde da Patagónia do Sul."
Que eles de certeza iriam dizer:
-"Está quase a sair. Só dois minutos, por favor. Peço desculpa."
Veio-se a saber pouco depois que a impressora avariou e não imprimiu o pedido para a nossa mesa, daí o grande atraso.
Para reparar o erro e "mimar-nos" enquanto não vinha a carne, ofereceram-nos a picanha do rodízio. Sim, a tal carninha num espeto, cortada às fatias fininhas. Era só fatias de picanha sempre a chegar,
à fartazana. Mas depois, quando veio o prato que pedimos, a mesa encheu-se com todos os empregados do restaurante a servirem-nos de tudo o que era possível. Era picanha no espeto, ananás no espeto e mais vinho tinto, que também só faltava estar no espeto. A mesa ficou mais cheia de comida que a do Fernando Mendes numa noite de Natal.
E, de vez em quando, lá vinha a empregada perguntar se queremos banana ou batata. Já agora, uma curiosidade. Já repararam no que oferecem? Banana e Batata. O nome é praticamente igual, só muda 2 consoantes. baNaNa. baTaTa. Será coincidência? Eu acho que, se houvesse um alimento chamado Bafafa ou Bacaca, também estava lá. O pior era se houvesse um alimento chamado Baxaxa. Aí, seria mais complicado perguntar:
-"Quer uma Baxaxa?"
No final da comida, o português pede sempre um palito. O que seria engraçado era darem-nos o palito da mesma forma que o rodízio, ou seja, trazerem um tronco de madeira no espeto e cortarem uma fatia para fazerem o palito.
No final, foram 2 horas de enfardanço brasileiro. Fiquei tão cheio que as 24 horas seguintes não comi nada. Não tinha fome nenhuma. E só comi passadas 24 horas porque achei que tinha que meter qualquer coisa no bucho, senão seria mais umas horitas sem papar. Parece que não, mas assim até se poupa muito dinheiro.
Por isso, se quiserem comer muito, torçam para que o pedido no restaurante brasileiro não fique registado. Possa ser que tenham sorte.




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